sexta-feira, 17 de junho de 2016



Lembranças de um amor mal resolvido

Entre meus sonhos contigo amanheço.
Eu lembro e esqueço teu modo de amar.
Bem mais de lembrança de ti entristeço.
Que mal que padeço de tanto lembrar.

É essa tormenta memória furtiva
Que dói-me o peito,
 Que assim é o amor.
Tal lembrança é cruel e nociva
Que fere-me o peito,
Que causa-me dor.

Me dói à memória esse gosto de ti.
Nem passo o pior nem o pior por vir.
Que mais mal que o que tem, já não posso aguentar...

Antes não lembrasse que te pertenci,
Nem que um dia tu estiveste aqui.
Ah, quem me dera esquecer de te amar!

sábado, 11 de junho de 2016

Uma Viagem de Soma



A noite devora meus pensamentos
Como a insônia consome a vida.
Pontes de ilusões são criadas e desfeitas
Em intervalos de tempos que não ouso calcular
Se muito: alguns segundos.
Se pouco: algumas eras.
É tudo muito abstrato
Imaterial
É tudo fruto da Psique, do imaginário,
Fruto da indústria farmacêutica.
Um segundo a mais um a menos...
A dilatação vem,
O brilho no olhar vem...
As cores se multiplicam
Se deformam
Os odores se potencializam
Se combinam...
Cheguei! Estou aqui...
É nessa terra sem precedentes nem sucessores
Que impera a criativa verdade de meus dias.
E que dias estes meus de verdades tão duras.
É neste limbo onde reinam as vertigens
Que morre toda a noção do real
Essa é a terra da psicodelia que alimenta a razão
É a terra em que morrem os desejos lúcidos e nascem os delirantes
Neste lugar me sinto em consonância com o próprio universo
Sendo eu o todo de tudo ou a parcela do nada
É aqui que me escondo em tempos de vida morna
De vida gélida
Ou em qualquer tempo de vida que careça de fuga
É aqui que sou quem sou ou quem nunca fui
Aqui eu simplesmente fluo o que sou
Aqui simplesmente sou.
Não percebemos nenhum tempo por aqui,
Há apenas esse contínuo, sem passado nem futuro
Em que convergem dimensões que os sentidos normais não alcançam perceber  
Aqui as contradições são racionais
E a razão é uma velha sábia que bebe de vez enquanto
E toda forma de ver é vista como uma forma de ver igual
Nestas florestas de fragmentos que sou
Aqui me acho inteiro
Aqui não preciso ser grande nem pequeno
Não preciso ter dinheiro ou ser educado
Não há nada aqui que me oprima
E os padrões aqui nada valem
Aqui mora a sensatez da loucura
Aqui impera a virtude do egoísmo
Se tanto me perco em devaneios
Aqui bem mais me encontro
Enquanto a noite cai e rezam por aí
Eu aqui fico, aqui fujo, aqui habito.
Aqui sou o que todos somos
Bem vindo ao poderoso Soma!

Caos da Décima Quinta Dimensão



Me sinto fragmentos de eras passadas.
Como se toda minha existência fosse apenas casualidade na ruptura do espaço tempo.
Como se desde tempos imemoriais eu subsistisse às mágoas do mundo.
Gosto de pensar que sou livre!
Livre como se pode ser qualquer um que tenha a mente nas nuvens.
Me jogo em abismos infindos de tempestuosas equações.
Solto floreios aos mais estranhos elementos que desconhecem a tabela periódica.
Daqui do espaço onde me encontro posso ver com lucidez toda a burrice do mundo.
Tão insignificante quanto sua presunção de ser o centro das coisas.
Assisto daqui toda essa baderna inútil que é o caótico mundo na terra.
Com suas máquinas que matam.
Com as pessoas que matam.
As que pagam pra serem mortas
E as que matam para enriquecerem e morrerem.
É tudo muito grotesco, muito desalinhado...
E eu aqui fragmentado em pedaços mil
Tão longe de tudo e de todos que nem sequer um átomo terrestre pode sonhar em tocar-me
Quero mais é ser esse universo de possibilidades,
Essa profusão de embaraços,
Esse mar de contradições,
Quero poder ser tudo e todos
Ainda à margem de qualquer um.
Ser como um fluxo contínuo de inquietação
E ser ainda uma tormenta calmaria.
Sim, os humanos são podres.
Neste momento não me sinto um deles.
Sou apenas estes bytes que percorrem circuitos de uma máquina
Sou alguns elétrons que não param
seus movimentos por mera disputa política, não senhor.
Serei quem sempre fui em tempos em que nada se era
E continuarei a sê-lo quando o tempo não mais existir
E quando tudo for apenas caos e trevas
Ainda assim, serei!
Sem lugar pra ir ou ficar.
Sem morada no tempo.
Sem abrigo no espaço.
Apenas vagando as mentes pútridas e os bares imundos.
Desafiando as probabilidades matemáticas
E todas as leis conhecidas da física moderna.
Sem nenhuma utilidade a quem busca conforto.
Sem conforto algum a quem busca diversão.
Continuo apenas esta massa disforme
Sem matéria ou o que o valha.
Livre
Como querem os anarquistas.
Preso a mim mesmo
Como querem os poetas!