Me sinto fragmentos de eras passadas.
Como se toda minha existência fosse apenas casualidade na
ruptura do espaço tempo.
Como se desde tempos imemoriais eu subsistisse às mágoas do
mundo.
Gosto de pensar que sou livre!
Livre como se pode ser qualquer um que tenha a mente nas
nuvens.
Me jogo em abismos infindos de tempestuosas equações.
Solto floreios aos mais estranhos elementos que desconhecem a tabela periódica.
Daqui do espaço onde me encontro posso ver com lucidez toda a
burrice do mundo.
Tão insignificante quanto sua presunção de ser o centro das
coisas.
Assisto daqui toda essa baderna inútil que é o caótico
mundo na terra.
Com suas máquinas que matam.
Com as pessoas que matam.
As que pagam pra serem mortas
E as que matam para enriquecerem e morrerem.
É tudo muito grotesco, muito desalinhado...
E eu aqui fragmentado em pedaços mil
Tão longe de tudo e de todos que nem sequer um átomo
terrestre pode sonhar em tocar-me
Quero mais é ser esse universo de possibilidades,
Essa profusão de embaraços,
Esse mar de contradições,
Quero poder ser tudo e todos
Ainda à margem de qualquer um.
Ser como um fluxo contínuo de inquietação
E ser ainda uma tormenta calmaria.
Sim, os humanos são podres.
Neste momento não me sinto um deles.
Sou apenas estes bytes que percorrem circuitos de uma
máquina
Sou alguns elétrons que não param
seus movimentos por mera
disputa política, não senhor.
Serei quem sempre fui em tempos em que nada se era
E continuarei a sê-lo quando o tempo não mais existir
E quando tudo for apenas caos e trevas
Ainda assim, serei!
Sem lugar pra ir ou ficar.
Sem morada no tempo.
Sem abrigo no espaço.
Apenas vagando as mentes pútridas e os bares imundos.
Desafiando as probabilidades matemáticas
E todas as leis conhecidas da física moderna.
Sem nenhuma utilidade a quem busca conforto.
Sem conforto algum a quem busca diversão.
Continuo apenas esta massa disforme
Sem matéria ou o que o valha.
Livre
Como querem os anarquistas.
Preso a mim mesmo
Como querem os poetas!